terça-feira, 6 de dezembro de 2011

EITCHA SALVADOR


Andar por Salvador é uma aventura digna dos Bandeirantes.
Se tiverdes coragem ou necessidade de se deslocar a pé, encontrarás obstáculos mil.
Se houver calçada, estará tomada por carros, camelôs, promotores de alguma financeira ou cursinho devidamente uniformizados, ou entulhos e lixos diversos espalhados. Normalmente as calçadas estão precárias de tal maneira que impossibilitam o uso em muitos trechos.
A desordem impera em praticamente toda a cidade.
Se a distância do seu deslocamento for um pouco maior e decidires ir com seu carro, prepare-se.
Estacionar vai ser difícil, ainda mais se desejares cumprir as leis. Fatalmente será abordado por um flanelinha, uniformizado ou não, mas que fará questão de não emitir o recibo de estacionamento.
O maior problema, no entanto é o deslocamento intercalado por crateras, carros parados e estacionados em locais proibidos, “roubadinhas” que tumultuam o deslocamento, veículos de transportes fazendo carga e descarga, pedestres se deslocando e invadindo as ruas, pois as calçadas estão tomadas de obstáculos, sinalização insuficiente e semáforos desregulados, ciclistas e motoqueiros imunes às leis.
Se fores politicamente correto e optares por um ônibus, muna-se de coragem.
Inexiste informações precisas de qual linha tomar para o seu itinerário, ela só existe no coletivo.
O coletivo apanhará os passageiros onde o motorista achar conveniente, não raro ele, para no meio da rua nas proximidades do ponto, por algum empecilho, como carros indevidamente parados no ponto, falhas na pavimentação ou por opção, portanto a sua aventura começa aí, alcançar a porta do veículo.
Se fordes bem sucedido, o próximo estágio e permanecer ileso, pois freadas bruscas e arranques repentinos, poderão acrescer sustos, emoções e hematomas a sua viagem.
O que parece inexistente é a autoridade.
Também acho que a fiscalização e a lei não resolvem todos os nossos problemas, é fundamental que queiramos cumprir as leis, pois do contrário, nunca serão suficientes as eventuais fiscalizações e nem os órgão fiscalizadores.
No entanto, acho pouco coerente que as várias instâncias de nossas autoridades não estejam em sintonia e gerando sinergia em ações que sejam complementares.
O que custa à polícia militar, embora cuidar do trânsito não seja sua função, advertir um condutor em flagrante desrespeito às leis (estacionado em local inapropriado, ciclista na contramão, motociclista que avança o sinal, veículos de transporte de passageiros e descarga impedindo o trânsito...).
A prefeitura poderia dizer a que veio, exigindo as calçadas, tornando a coleta de lixo regular (divulgando os horários e roteiros), exigindo regularização nas construções impedindo o esgoto irregular o depósito de entulho nas calçadas, etc.
Os diversos organismos poderiam trabalhar em conjunto, elencando as irregularidades vistas para os setores competentes, reduzindo o trabalho que certamente teria que recomeçar a cada fiscalização específica.
O governo do estado poderia ser efetivo nas fiscalizações das feiras livres onde gatos, ratos, baratas e pombos dividem irmanamente o espaço com carnes e outros víveres.
Mas fundamental é que haja intolerância com as ilegalidades, os jeitinhos.
A existência da lei não garante por si só, não garante o cumprimento. Observem-se as vagas especiais nos estacionamentos, para idosos e deficientes, dentre outras. Raramente são ocupadas por quem de direito.
Vi parte do plano de tolerância zero, do prefeito de Nova York, cuja filosofia é mais ou menos contida no ditado “é de pequeno que se torce o pepino”. A parte boa do processo é que se baseia na simplicidade. O sujeito começa atirando o lixo na rua, ninguém o repreende e num crescente depreda uma lixeira, quebra um banco na praça, e assim vai.
Acaba por achar que pode roubar assaltar.
Também não acho que seja possível que toda a solução deva vir do poder público. Acho que a educação é a parte preponderante.
Mas a minha experiência me autoriza a afirmar que mais se educa pelo exemplo que pelas palavras.
E nada melhor experiência que a vivida.
Eu respeito às leis de trânsito porque quero me dar bem. Se todos cumprissem as leis, não haveria invasão de semáforos, impossibilidades de deslocamentos por paradas irregulares e etc.
Acho é essencial que quando se enxergar um agente público seja possível ver a autoridade inerente, institucional dada pela lei, e também ver a postura que se espera de uma autoridade.
Ver um policial ou agente de trânsito falando animadamente num celular, não parece um ato que ajude a impor ordem.
É claro que são seres humanos e portanto falhos, mas acreditar na autoridade é fundamental.

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